sábado, 14 de maio de 2011

- Ele... Completamente sozinho! Nós dois... Completamente separados! - exclamou ela, indignada. - E quem irá nos separar, não me dirás? Quem tentar terá o destino de Milo! Não enquanto eu for viva, Ellen... Nenhum mortal vai conseguir isso. Mais depressa sumiriam da face da Terra todos os Linton por um tal preço!ele continuará a ser pra mim o que tenha sido toda a vida. E o Edgar terá de pôr de lado a antipatia que sente por ele e, pelo menos, tolerá-lo. E assim será quando conhecer os meus sentimentos Heathcliff. Nelly, sei que vais me achar uma tremenda egoísta, mas nunca pensastes que, se eu me casasse com o Heathcliff acabaríamos os dois pedindo esmolas? Ao passo que, se casar com o Linton, posso ajudar o Heathcliff a erguer a cabeça e a sair do Jugo do meu irmão?



- Com o dinheiro de seu marido, sra. Catherine? - perguntei. - Verá que ele não é tão fácil de convencer como passa; além disso, e sem querer me arvorar em juiz, parece-me que essa é de todas a pior razão para se tornar esposa do jovem Linton.
- Não é nada - retrucou. - É ao contrário, a melhor de todas! As outras eram só para satisfazer os meus caprichos, e também os de Edgar... para ele ficar contente. E esta é por uma pessoa que congrega em si tanto os meus sentimentos pelo Edgar como os que nutro por mim mesma. Não sei como explicar, mas certamente que tu e toda a gente têm a noção de que existe, ou deveria existir um outro eu para além de nós próprios. Para que serviria eu ter sido criada se apenas me resumisse a isto? Os meus grandes desgostos neste mundo foram os desgostos do Heathcliff, e eu acompanhei e senti cada um deles desde o início; é ele que me mantém viva. Se tudo o mais perecesse e ele ficasse, eu continuaria, mesmo assim, a existir; e, se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, o universo se tornaria para mim uma vastidão desconhecida, a que eu não teria a sensação de pertencer. O meu amor pelo Linton é como a folhagem dos bosques: irá se tranformar com o tempo, sei disso, como ás árvores se transforman com o inverno. Mas o meu amor por Heathcliff é como as penedias que nos sustentam: podem não ser um deleite para os olhos , mas são imprecindíveis. Nelly, eu sou o Heathcliff. Ele está sempre, sempre no meu pensamento. Não por prazer, tal como eu não sou um prazer para mim própria, mas como parte de mim mesma, como eu própria. Portanto, não voltes a falar na nossa separação, pois é algo de impraticável.




Narrado por: Nelly ou Ellen.




Retirado do livro: Morro dos ventos uivantes - Emily Brontë




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